d(h)umor

"Nunca se pode concordar em rastejar,
 quando se sente o ímpeto de voar" 
Helen Keller



...


.about dreams.




.esta bem podia ser uma das frames do sonho da noite passada. afinal existe. algures no mundo. árvores idílicas assim. e é nestas alturas que me permito questionar. qual o limite do real e do imaginário? e se o real for o sonho e o que acreditamos ser real não passar de um sonho. reverter o real. virar do avesso as teorias e crenças em que assentam os nossos conceitos. ou apenas permitirmo-nos delirar uns minutos. como quem... isso. mas a loucura ou insanidade ainda não bateu à porta. há demasiada consciência. e demasiadas dúvidas. e certezas. como dizia o meu professor de Dinâmica de Grupo: "imaginem que a loucura é uma linha que vocês desenharam. ali. a três passos. e vão avançando. um. dois. e eis que a pisam. estou agora a pisá-la. afinal ainda não é aqui que é a loucura. mas sim um pouco mais a frente." e é isso. quando queremos não lá chegamos. e talvez precise de dormir. um pouco mais. na esperança de guardar mais frames do filme que é projectado enquanto durmo. mas esta bem podia ser. Washington DC. um dia. talvez.

.don't forget.

(e aqui deveria estar uma fotografia. e está)


there is always somebody or something
waiting for you,
something stronger, more intelligent,
more evil, more kind, more durable,
something bigger, something better,
something worse, something with
eyes like the tiger, jaws like the shark,
something crazier than crazy,
saner than sane,
there is always something or somebody
waiting for you
as you put on your shoes
or as you sleep
or as you empty a garbage can
or pet your cat
or brush your teeth
or celebrate a holiday
there is always somebody or something
waiting for you.

keep this fully in mind
so that when it happens
you will be as ready as possible.

meanwhile, a good day to
you
if you are still there.
I think that I am---
I just burnt my fingers on
this
cigarette."

 Charles Bukowski

.loop.s.


.o Leonard era cá de casa. muito. juntamente com outros que me habituei a ouvir. não que os escolhesse. ainda assim. escolhidos. crescemos juntos. Leonard em vinyl. ainda por cá anda. e há tanto que não o ouvia. até este "popular problems". pergunto-me se será o último. abraço. mas ele há coisas imortais.

.:: Kafka revisitado ::.



"Sempre com mais medo ao escrever. É incompreensível. Cada palavra torcida nas mãos dos espíritos – este torcer de mãos é o seu gesto característico – torna-se numa lança que se volta contra o orador. Muito especialmente uma observação como esta. E assim «ad infinitum». A única consolação seria: acontece quer gostes quer não. E o que gostas não serve de nada. Mais do que consolação: também tu tens armas."
F. Kafka in Diários

(nota de autor: por preguiça não me apeteceu pegar no telemóvel e tirar uma genuína fotografia de autor do livro que me tem acompanhado nestes dias. de chuva. com cheiro a outono. de fins de dia enroscada no sofá de chávena de chá entre mãos e livro ao colo. por preguiça fica só comigo. porque a capa na verdade pouco importa.)

.simple.things.


.perante algo que eventualmente nos possa incomodar. vento. as folhas que dançam à nossa volta. e dançam. e o vento. que incomoda. e de repente. uma criança ao longe. aproxima-se.corre. gargalhadas. e o vento. e sem saber ensina. coisas grandes em coisas ttão pequenas. sem serem coisas. mas digo coisas. assim como quem tem preguiça de enunciar algo maior. mais erudito. porque não é necessário. deixa de o ser. quando percebes. e te apercebes. que sorris. e o vento deixou de incomodar. e tens vontade de te levantar e correr com ela atrás das folhas que dançam ao vento. e sorris. percebes. tranquilamente. que a vida é para ser assim. leve. por entre gargalhadas. como o vento que te deixa de incomodar.

.dedicatória.

Look into my eyes
It's the only way you'll know I'm telling the truth




.desde 2006. a declaração que não entendi. o esperar à porta. todos os dias. às vezes sem apareceres. ficavas no carro. vias-me passar e isso bastava-te. confessaste depois. mas naquele dia que já não recordo a cor nem os números que o compõem. dois. éramos nós. isto. semanas seguidas todos os dias. isto. e tu. sempre. e agora sei que. sei amor. obrigado M.

...


.as conversas dos outros.

- mas eu achava que era uma velhinha, mãe. Ele tem o cabelo comprido!
- filha, os homens podem ter o cabelo comprido, as mulheres podem ter o cabelo curto também. E os homens se quiserem também podem usar saia. Não há mal nenhum nisso.

A filha olha para a saia rodada do seu próprio vestido, encolhe os ombros chateada,  mira o pai mais à frente - de cabelo curto e calções - nada mais diz.

A mãe volta atrás, pega-lhe na mão, seguem o caminho em silêncio.