.timming.

"E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.” - Ana Jácomo

.porque tudo na vida tem um timming. e nem sempre o timming de A é o timming de B. e daí posso (porque me apetece arranjar justificações) depreender que justifica grande parte dos desencontros. e dos encontros também. acho que antes não me preocupava com desencontros, embora os houvesse. sempre há. faz parte da vida como o acto de respirar. não direi que agora me preocupe mais. apenas penso mais. acho. sobre isso. e sobre tantas outras coisas. questiono-me mais. analiso mais. até o acto de respirar. inconsciente. espontâneo. trazido a luz racionalmente. e no entanto sou mais emocional. demasiado emocional. mais. que ontem. e racional. mais. que anteontem. e na dicotomia destas duas constatações. vou beber um trago de madrugada.

hands up - i love you

and nothing stays the same
and no one said it would
i would not think of such things if i could

...

.quando ouço os comboios ao longe. chove ou vai chover. nunca percebi a relação entre. som. condições climatéricas. deverá ter uma explicação qualquer. que não me interessa. hoje. tinha saudades. de serões na companhia deles. da chuva. do cheiro. da terra. o inóspito que embala no silêncio. da noite. ouço os comboios. ao longe. chove. tinha saudades. das noites. não da chuva. talvez da chuva. dos sons que preenchem espaços. a lembrar o outono. estacão. como a por onde ele passa. rumo ao destino. sem nada que o impeça de avançar. chegar. atracar. não atracar. como os barcos. estacionar. mas chegar. lá. onde o esperam. e tinha saudades. da noite. 

.quite emocional.


We're slow raised by the break of day
You are now entirely mine again
Still I hold you in my arms
There is not much to talk about anyway

(i don't believe you now)




.pessoas que cruzaram a nossa vida. cresceram em nós. acreditamos que fizemos parte. eles parte. nós. depois. depois um branco nos traços que tentamos (em vão resgatar). tal como a confiança. há perdão sem resgate de confiança. não há dizem alguns. talvez haja. há. perdoar para seguir. não querer voltar. seguir.sem aquele que nos foi tanto. e tanta foi a ilusão. raros são os que conheci que se enquadram aqui. mas existem. resgatar confiança é coisa possível. se não falharem à primeira tentativa de regresso. falhou. e as águas passadas mataram a vida que existia ainda. e penso que há pessoas especiais. essas sempre continuarão a sê-lo. mas ao longe. algumas. quando a proximidade demasiada nos causa vertigens. e tombamos. coisas da audição. tensões baixas em tensões demasiado altas. por prescrição médica. seguimos. com o que foi mas não é. já não. pessoas que cruzaram a nossa vida. cresceram em nós. depois. depois um branco. como um manto que nos cobre e protege do frio. perdoar para seguir.

.dos poemas.da vida.



(e aqui era suposto estar uma fotografia. e está)



Para ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida.

Mia Couto

.espera.

.a espera é uma espécie de morte lenta. um corpo que vegeta. à espera. que desliguem a máquina que o sustém. suspenso. no tempo. sem tempo. à espera. esperas?

A.L.A. (não psiquiátrica)



.há uns dias senti vontade. quase necessidade de voltar a ler Lobo Antunes. saudades. uma afinidade à escrita. dele. a falta das palavras. da desordem caótica que preenche o caos. estrutura. ou re-estrutura. releio este depois de uns tempos (1 ano?) sem ele. revisito-o agora. e assim que o voltei a sentir nas minhas mãos. um conforto como o dos grandes amores que não se esquecem. releio. o. agora. neste mês em que mais um ano se junta à minha contagem. decrescente. crescente. como nos aprovier. assim. neste mês que completa mais um ciclo. neste ano. que completa. ciclo. reciclo. me. e Antunes assiste. calmo na serenidade da palavra. e serena. eu.

.sent.idos.

.o cheiro do pão sem sal. da cerelac. das flores de tília. do aqua de gio homem. cheiros que transportam. a diferentes realidades. transportam consigo memórias ternas. sempre (ou quase) relacionadas a alguém/ns. sempre. e o automatismo de milésimos de segundos é obra científica sem ciência que explique. mas explica. mas não me interessam as teorias as certezas absolutas do como ou porquês. há experiências que não se explicam. porque se se explicam não se sentem. ou sentimos ou racionalizamos. se racionalizo deixo de sentir. milésimos de segundos que escapam. como areia por entre os dedos ou construções de castelos de areia destruidos por uma onda incauta. reconstruir. resgatar é possivel. mas nunca igual ao que se teve. não penso. mas penso. estou a fazê-lo agora. mas não o fiz. não faço quando a magia do sentir bate à porta. de mansinho. e leva-me a tempos. idos. tatuados na pele. na pele por dentro. não se vê. tatuagens de sentimentos em odores que elevam. memórias. e por momentos esqueço-me. esqueço. e por momentos sorrio. aqueles sorrisos que não se vêem. e deixo de ser eu. a que caminha para os trintas e tais. mais iva. e sou a miúda dos vinte e tantos. quando ele parou no meio da estrada saiu do carro correu até à margem apanhou um ramo de uma das muitas árvores em flor que enalteciam a rua da Gulbenkian (a minha. não a de Lisboa) entra no carro dá-me o ramo beija-me pede-me para cheirar brilho nos olhos é tília. todas estas árvores aqui são tília. não é maravilhoso. este é para ti. tília para ti. eu para ti. sempre. e lembro-me sempre. por onde passe seja norte ou sul ou algures por aí por aqui. nessa mesma rua. noutra qualquer. sei sempre. viajo sempre. quando o odor da tília inunda espaços. o meu. o teu. o de alguém. espaços preenchidos milésimos de segundos. ou sentes ou racionalizas. mas sentes. sempre. inevitavelmente. conexões de velocidades mil. como a velocidade da luz. e quem fala da tília. e de ti. dele. de mim. fala também deles. dos outros. d'aqueloutros. os cheiros. que nos transportam. que transportam consigo partes de nós.